A humanização dos animais é algo muito perigoso, pois tem a tendência de tornar o relacionamento unilateral, assim trazendo benefícios apenas para o ser humano. Pessoas adquirem animais de estimação sem se preocuparem com as reais exigências e responsabilidades que o bicho em questão necessita. Seguem tendências de modismo, impulsos consumistas e acabam esquecendo que estão lidando com seres vivos de características próprias.
Percebo os tutores, em sua
grande maioria, tratando seus animais como se fossem eternas crianças
humanas, ou pior, não se preocupam em buscar informações de como é a
real exigência do animal, e os mimam em excesso. O resultado disso são
animais extremamente estressados, e os pobres dos cães são as principais
vítimas devido sua popularidade maior como animal de estimação.
O que é melhor? Seu cão ser
presenteado com uma roupinha da moda ou levá-lo em um local onde possa
correr livre pela natureza? Esses tipos de questões deveriam ser mais
refletidas, pois talvez levassem as pessoas a enxergarem seus cães como
animais predadores que são, e não como”bibelôs” ou criancinhas.
As pessoas deveriam fazer outro
seguinte questionamento: Gosto de cão? Gosto. Então antes de me
responsabilizar por esse ser vivo vou estudar suas reais necessidades e
se tenho condições de respeitá-las. Nos E.U.A. existem estudos que
apontam os problemas comportamentais como o maior motivo que levam as
pessoas a abandonarem animais, seja em abrigos ou nas ruas. E isso é
devido ao desconhecimento e as falsas expectativas em relação ao
comportamento do animal.
Transtornos Comportamentais
A grande maioria dos transtornos
comportamentais estão ligados a humanização, já que nossos animais de
estimação não são humanos. Denominá-los de filho, neto, afilhado, ou
outro tratamento humanizado qualquer não tem problema, a questão é
respeitá-los levando em conta seus instintos e reais necessidades.
Posso citar os transtornos de
comportamentos mais comuns nos cães humanizados de uma forma muito
resumida e generalizada: agressividade, distúrbios compulsivos diversos,
ansiedade generalizada, comportamentos de chamar atenção, vocalizações
excessivas, medos diversos, entre outros. Destaco o transtorno
denominado Ansiedade de Separação, esse é um dos principais distúrbios
que tenho atendido. Se caracteriza por o cão ter um forte apego ao
tutor, por reforços inadvertidos do próprio, mas a pessoa não tem tempo
suficiente para suprir esse vínculo social, então o animal não consegue
ficar sozinho e faz tudo para ir atrás do tutor. Late e uiva
exageradamente como forma de comunicação, comportamentos de fuga o
levando a risco de vida, destruição de portas e janelas com intuito de
fuga, salivação excessiva entre outros.
Um Fenômeno Recente
Quanto a humanização, acredito
que seja um fenômeno recente devido aos nossos espaços físicos cada vez
menores, pois estamos nos verticalizando e morando em espaços
progressivamente reduzidos. Com isso o “cão do quintal” e o cão de
trabalho de décadas atrás está se tornando um membro da família. A
proximidade entre o cão e o humano aumentou bastante com isso, e com
certeza contribui para a humanização. Outro fator é a nossa distância
cada vez maior da natureza, pois estamos cada vez mais urbanos, e
acredito que seja um fator contribuinte já que trazemos os cães para
essa realidade. Importante destacar a falta de tempo também, não temos
tempo nem para nós mesmos, e então resolvemos trazer para nossos lares
um animal, como o cão, que possui características sociais, por exemplo.
Saúde Afetada Pela Humanização
Quando o animal chega ao ponto
de desenvolver distúrbios de comportamento o estresse geralmente está
envolvido. E já se sabe que o animal estressado tem a imunidade afetada e
se torna suscetível a doenças diversas. Existem distúrbios compulsivos
entre os cães que os levam a auto-mutilação, e nesse caso a humanização
também está envolvida. Outro fator é oferecer alimentos utilizados na
alimentação humana para os animais de estimação. O argumento dos tutores
sempre é o da expressão irresistível que eles fazem quando querem algo.
Penso que nesses casos as pessoas deveriam refletir antes sobre o que é
amar. Quem ama cuida. Cuidar nesse caso significa se interessar sobre a
saúde do animal e os cuidados que o envolve. Toda clínica veterinária
sabe o quanto os consultórios ficam lotados na páscoa com cães
intoxicados por ingerirem chocolate, e não acredito na falta de
informação hoje em dia, e sim no descaso.
Fonte: Dr. Paulo F. de O. Deslandes - Médico Veterinário especializado em Comportamento Canino e Felino
Site www.ccanimal.com.br e blog http://artigoscao.blogspot.com
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