SARNA DEMODÉCICA...E AGORA?




A sarna demodécica ou demodicose é uma parasitose de pele, de caráter inflamatório, produzida pelo ácaro Demodex canis (D. canis) no cão e Demodex cati no gato. É uma doença comum em cães e rara em gatos.
O Demodex localiza-se principalmente nos folículos pilosos, mas também pode, ocasionalmente, ser encontrado nas glândulas sudoríparas e sebáceas.
A transmissão, em cães, ocorre nos três primeiros dias após o nascimento.

Mas o que realmente a mãe transmite ao filhote? 



Segundo as mais recentes pesquisas na área, a mãe transmite a GENÉTICA, o defeito imunológico celular onde a qualidade dos linfócitos T específicos para o combate a este ácaro está prejudicada, ou seja, a imunidade celular específica para combater o ácaro. Não há transmissão horizontal da doença, ou seja, um animal são em contato íntimo com um cão portador de demodécica, não sofre contágio.
O D. canis faz parte da microbiota normal da pele do cão, ou seja, está presente também na pele de cães sãos que não apresentam a doença. São os linfócitos T hígidos, não defeituosos, que garantem a não proliferação do ácaro em animais sãos, ou seja, com uma imunidade celular adequada, sem interferência genética. Importante salientar que nos animais com sarna demodécica não encontramos alterações na imunidade humoral (mediada por anticorpos) pois a resposta de anticorpos contra enfermidades virais ou bacterianas é comprovadamente idêntica a de cães sãos, tanto os vacinados quanto os submetidos a infecções naturais.



Quais os fatores predisponentes?
Muitos fatores podem predispor a manifestação da doença, dentre eles o estresse, o cio, a gestação, as privações diversas (sede, fome, abandono e intempéries), as cirurgias, transportes, mudanças ambientais, perda de companheiros humanos ou peludos e doenças debilitantes como câncer, hepatopatias, parasitismo, hiperadrenocorticismo, imunossupressão e até ansiedade por separação, dentre outros fatores.

Quais as formas de manifestação?
A manifestação do quadro clínico da demodicose pode se dar de duas formas: demodicose juvenil, que se desenvolve em cães jovens com suscetibilidade genética e, a adulta, que ocorre em cães em idade adulta freqüentemente imunosuprimidos.
Além dessa classificação, pode-se ainda caracterizar o quadro clínico com base nas manifestações, como localizada e generalizada. Na forma localizada, que ocorre em cães com menos de um ano de idade e que em 90% dos casos se resolve de forma aparentemente espontânea, nota-se de uma a cinco áreas de alopecia (ausência de pelos), com graus variados de eritema (pele avermelhada), hiperpigmentação (pele escura, preta ou acinzentada) e descamação (semelhante a caspa). As lesões são mais comuns na face, mas podem ser encontradas por todo o corpo. Em geral, as lesões não são pruriginosas, a não ser nos casos de infecção secundária concomitante. Apenas 10% destes casos evoluem para a forma generalizada.



A doença é considerada generalizada se duas ou mais patas forem acometidas, se mais de cinco áreas circulares de alopecia forem observadas ou se todo o corpo for acometido. É uma forma severa de manifestação da doença, com alopecia extensa (ausência de pelos em grandes áreas), pápulas (lesão inflamatória, elevada e superficial), pústulas (semelhante a espinhas) e crostas. As lesões costumam agravar-se por infecções secundárias (bactérias e leveduras) causando, por exemplo, a pododermatite (infecção e inflamação entre os dedos) e a malasseziose generalizada (infecção secundária pela levedura malassezia pachydermatis, também presente na microbiota normal da pele do cão, mas que no animal com imunidade baixa, perpetua e agrava as doenças de pele pré-existentes).



Agravações do quadro geral podem causar doenças sistêmicas com infecção generalizada no sistema linfático, letargia e febre, associados com formas mais graves de infecções de pele como furunculose e fístulas.



E o diagnóstico?
O diagnóstico é bastante simples e pode ser feito no próprio consultório, através de alguns raspados de pele profundos e com o auxílio de um microscópio. A presença de um único ácaro no raspado de pele não determina um diagnóstico positivo para demodécica, já que o ácaro também é um habitante natural da pele de cães sãos, mas se for encontrado um único ácaro adulto junto à sintomatologia clínica, provavelmente estamos diante de um quadro de demodicose. Somente a presença de várias formas imaturas e ácaros adultos no raspado de pele confirma, por si só, o diagnóstico positivo para a doença. Em alguns casos, pode ser necessária uma biópsia de pele para elucidar o quadro clínico, principalmente em se tratando da raça Sharpei.



Sempre que se diagnostique demodicose generalizada em cães adultos, deve-se fazer uma avaliação médica minuciosa com o objetivo de identificar alguma enfermidade sistêmica que esteja diminuindo a imunidade do paciente, como hiperadrenocorticismo, hipotireoidismo, diabetes, terapias com imunossupressores, doenças auto-imunes, câncer e outras.

Existe otite causada por demodex?
D. canis também causa otite, com produção de cerúmen e crostas, como parte de um quadro de pele generalizado. O odor desagradável é uma característica marcante das secreções nesta patologia. O exame do cerúmen, ao microscópio, pode revelar numerosos ácaros, em seus diversos estágios de desenvolvimento.

E o tratamento?
Os tratamentos convencionais com ivermectinas (Ivomec, Mectimax), moxidectinas (Cydectin), milbemicinas (Interceptor), doramectinas (Dectomax), metaflumizonas (Promeris), amitrazinas (Amitraz), assim como os antibióticos utilizados nos casos de infecções secundárias bacterianas, já são bem conhecidos dos cuidadores que tem sob seus cuidados, cães e gatos portadores de sarna demodécica. Nenhum tratamento, no caso da demodécica generalizada, é 100% efetivo em todos os casos, sendo que alguns animais reagem melhor a uma ou outra droga, outros são refratários a todo tipo de tratamento e acabam sendo eutanasiados após muitos tratamentos mau sucedidos.
Muitos dos bons resultados são passageiros, com recidivas freqüentes dos quadros em semanas ou meses. O animal é considerado curado quando 3 raspados de pele são negativos e o animal não apresenta recidiva no prazo de um ano de acompanhamento. No tratamento convencional , a doramectina (Dectomax) e a moxidectina (Cydectin) são os mais eficazes e com menores efeitos colaterais imediatos (via oral e a duração pode ser de até 5 meses).
Em nenhum dos trabalhos científicos publicados sobre o uso continuado desses medicamentos, avaliou-se seus efeitos colaterais a médio e longo prazo. Os danos causados ao organismo animal podem ser inúmeros, principalmente ao nível de fígado, que é o órgão responsável por praticamente todo o processo de metabolismo dessas drogas. Portanto, fiquem atentos, pois essa história de dizer que não tem efeitos colaterais não é realidade, não existem dados suficientes para se fazer esta afirmação!!!
Sob o ponto de vista homeopático, a utilização de coleiras, pour-on, banhos, sprays e outros medicamentos locais, normalmente utilizados de forma continuada no tratamento da demodécica, “abafam” os sinais e sintomas da manifestação da doença, internalizando-a e afetando órgãos mais importantes, mais profundos. Na visão homeopática, esta cura não é verdadeira, apenas paliativa.



Mas existem outras formas, mais naturais, de tratar a sarna demodécica?
Sim, existe a abordagem holística, que considera o microcosmos (o ácaro na pele) e o macrocosmos (o indivíduo, suas necessidades, suas deficiências, suas relações com o meio em que vive, suas necessidades nutricionais individuais, o clima e tudo o mais).
Considerando-se que o estresse seja um fator desencadeante da exacerbação da população de D. canis na pele, associado a queda de imunidade do indivíduo, a abordagem integralista da demodicose deve levar em consideração vários fatores:

NUTRIÇÃO – A alimentação natural, sem aditivos e conservantes, feita de forma balanceada, conforme as necessidades individuais dos pacientes, beneficia a saúde, o ânimo e a qualidade de vida dos pacientes. Leia sobre as dietas BARF, dieta com ossos carnosos crus, dietas caseiras cruas e cozidas, dietas vegetarianas e outras combinações e variações no site www.cachorroverde.com.br ou em outras postagens sobre nutrição aqui mesmo,no meu blog. Em caso de animais severamente debilitados e não habituados à alimentação crua, a dieta caseira com alimentos cozidos frescos, de preferência os orgânicos, apropriadamente balanceada, deve ser introduzida até que o animal esteja apto para alimentar-se com alimentos crús.
Mudanças radicais alimentares costumam provocar processos de exoneração de toxinas, podendo agravar casos já complicados de demodécica e, portanto deve-se fazer essas alterações de forma gradativa e sob orientação veterinária. Algumas vezes há a necessidade de suplementar com enzimas digestivas e probióticos nesse período de transição, para facilitar a adequação do trato digestivo ao novo alimento.
Alimentos funcionais devem ser utilizados visando à melhoria da imunidade, das características e condições da pele, ação antinflamatória, analgésica, antibiótica.



Vejamos alguns exemplos:
Alho : imunidade, ação antibiótica e antinflamatória. Deve ser consumido crú, espremido ou esmagado.
Aveia : regula o trânsito intestinal, ajuda a tirar toxinas do sangue. Também tem ação calmante sobre o prurido da pele.
Probióticos: kefir, iogurtes, leite fermentado. Regulam a microbiota intestinal. 70% da atividade imunológica do organismo se dá ao nível de intestinos.
Ômega 3: presente em peixes de águas geladas (salmão, arenque, atum fresco, cavalinha e sardinha) e linhaça. Além da ação antioxidante, também age como antinflamatório sobre a pele.
Tomate: o componente licopene presente nessa fruta, tem importante ação antioxidante e melhora a imunidade celular. Seu melhor aproveitamento se dá sob a forma de molhos (naturais, é claro!!!!).
Cogumelos comestíveis, inclusive o do SOL: ricos em betaglucana, com importante ação na imunidade. O Shitake estimula macrófagos e linfócitos T.
Crustáceos, ostras, semente de abóbora e girassol : todos ricos em zinco, importantíssimo na cicatrização e na redução da inflamação.
Outros alimentos com ação sobre a pele: castanhas, amêndoas, pimentão vermelho, chá verde e chá de alecrim, clara de ovo, frutas (amarelo-alaranjadas), gengibre, couve, couve-flôr, couve de bruxelas, repolho, rabanete.



Não tem ração pra sarna demodécica? Ainda não, mas logo, logo vai aparecer!

Os alimentos industrializados, incluindo-se as rações, contêm grandes quantidades de Ômega 6, chamado por muitos nutricionistas de fator pró-inflamatório e que em proporções inadequadas, acaba facilitando/participando do processo inflamatório tão presente na pele infestada pelo demodex. Também os conservantes, corantes, aromatizantes e outros “antes” das rações, são grandes vilões nos processos patológicos na pele. Óleos vegetais de soja, algodão, milho e girassol, produtos fabricados com farinha branca (pães e bolachas), arroz polido, embutidos (salsicha, linguiça e salame),leites e derivados, têm ação pró-inflamatória e não devem ser utilizados com frequência na alimentação de animais com sarna demodécica.

EXERCÍCIOS/BEM ESTAR ANIMAL – caminhadas diárias ao ar livre, com tempo mínimo de 1 hora ao dia, em horários adequados, temperaturas amenas. Banhos de sol nos horários apropriados (antes das 10:00 e depois das 16:00 hs). Estímulos lúdicos, brincadeiras, companhia e atenção dirigida. O enriquecimento do ambiente com brinquedos, ossos e companhia é de suma importância para o bem estar destes animais. Cães são seres sociais que necessitam de interação inter e intra-espécie.

EVITAR O ESTRESSE – cios, disputas territoriais, hierárquicas, ambientes inapropriados, animais presos por longos períodos, ausência de contato com outros indivíduos, excesso de vínculos com humanos ( hipervinculação ).

DENCANSO – Períodos freqüentes de descanso, principalmente em filhotes. Coloque a cama deles em locais de pouco acesso para evitar que a “soneca” seja interrompida pela movimentação da casa.



AMBIENTE LIMPO E AREJADO – utilize material lavável ou descartável como papelão. Nada de PLÁSTICO, pois fica úmido e esquenta. Lave as camas e os panos com freqüência e utilize somente sabão ou detergente neutro.

BANHOS - não exagere!!! Nas doenças de pele todo cuidado é pouco com os excessos de banhos e a utilização de xampus medicamentosos. A avaliação da necessidade ou não de banhos freqüentes deve ser feita pelo veterinário. No verão podem chegar a ser dados uma vez por semana, com xampus neutros ou sabão de glicerina, mas dependendo do estado da pele, das infecções secundárias, xampus medicamentosos devem ser utilizados. No inverno, um a cada 15 dias ou 3 semanas. Isso para animais que estão dentro de casa e o cuidador exige banhos mais seguidos. Nos animais sem acesso a casa, os banhos podem ser feitos somente se houver necessidade. Banhos medicamentosos, somente com o acompanhamento do veterinário.

MEDICAMENTOS TÓPICOS – veterinários holísticos, principalmente homeopatas, não recomendam utilização de sprays medicamentosos, no máximo hidratantes, umectantes e emolientes e de preferência os mais naturais possíveis, como aveia e aloe vera. Na abordagem homeopática, quando se utilizam medicamentos externamente, interiorizam-se, aprofundam-se as lesões. É uma espécie de “abafamento” do sintoma, chamada supressão, que pode piorar o estado geral do animal e posteriormente vai se exteriorizar novamente, muitas vezes de forma mais grave e agressiva. Eu costumo mandar manipular, individualizando as necessidades.

CASTRAÇÃO – de fêmeas e machos!!!! Não esqueçam que existe uma informação genética (defeito nos linfócitos T específicos para demódex) e ela é transmitida tanto por fêmeas como por machos!!! A castração aqui funciona como fator coadjuvante ao tratamento, evitando o estresse do cio e dos machos com libido ativada e também como profilaxia, prevenção.



HOMEOPATIA – mais uma vez, enfatizo que não existem fórmulas prontas, pelo menos não na homeopatia unicista com a qual trabalho. Nesta abordagem, o animal é considerado como um todo e não apenas os sinais clínicos referentes à pele do animal. O temperamento, as atitudes, as manifestações de sofrimento, o que melhora, o que piora, os horários de melhora e agravação, os desejos alimentares, tudo isso e muito mais vai contar na hora da escolha dos medicamentos. O estudo de cada indivíduo nos leva ao medicamento de fundo ou constitucional daquela criatura. Por exemplo, já atendi ninhadas inteiras portadoras de demodécica, mas onde cada indivíduo foi medicado com um medicamento diferente dos outros. Na minha prática clínica tenho observado o controle da doença após a utilização de vários medicamentos, sempre intercalados com duas pérolas da homeopatia com enfoque na pele, que são o sulphur e o psorinum, em potências crescentes ou decrescentes e também alternados com outros tantos medicamentos episódicos, sendo a escolha de cada medicamento feita caso a caso, conforme a totalidade dos sintomas de cada indivíduo. O tratamento homeopático da demodécica não é simples, nem rápido e requer a participação paciente e persistente, por parte do cuidador, assim como a observação de todas as alterações físicas e anímicas do paciente, retornos regulares ao consultório e muita confiança no médico veterinário homeopata.


Fonte: http://www.blog.bichointegral.com.br/2010/08/sarna-demodecicae-agora.html

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