Introdução
No
fim do ano de 1978, uma nova doença
viral
de cães, caracterizada por diarréia
hemorrágica severa e vômitos, foi
reconhecida.
A
doença causada por um parvovírus
manifesta-se de duas formas, que são a
forma entérica e a forma miocárdica.
A forma entérica é mais freqüentemente
reconhecida, por mostrar sinais
evidentes. A forma
miocárdica é geralmente diagnosticada
no post-mortem, pois a maioria dos
animais morre
subitamente sem mostrar sinais
clínicos.
Onde
a doença se originou e por que ela
apareceu
subitamente e quase que
espontaneamente em várias
partes do mundo ao mesmo tempo não é
sabido. Tem sido sugerido que, devido à
semelhança antigênica com o vírus
da panleucopenia felina, o vírus da
parvovirose
canina seja um mutante de uma linhagem
de campo
do vírus felino.
Patogênese
As
fezes contaminadas são a fonte
primária
de infecção da parvovirose canina.
Após a exposição oral, o vírus
se localiza e infecta os linfonodos
regionais da
faringe e tonsilas (amígdalas). A
partir
desse evento o vírus ganha a corrente
circulatória
(fase de viremia) e invade vários
tecidos,
incluindo o timo, o baço, os
linfonodos,
a medula óssea, os pulmões, o
miocárdio
e finalmente o jejuno distal e o íleo,
onde
ele continua a se replicar. A
replicação
causa a necrose das criptas do
epitélio do
intestino delgado, com eventual
destruição
das vilosidades. O vírus também pode
causar lesões em outros órgãos
que invade, contribuindo para
múltiplos sintomas
como linfopenia (medula óssea),
miocardite
(coração) e sinais respiratórios
(faringe).
O
parvovírus tem
sido isolado de conteúdo intestinal e
fezes
de cães afetados. O mesmo vírus
causa as duas formas da doença. O
vírus
somente se multiplica em tecidos em
rápido
crescimento.
Até
cerca de quatro semanas de idade, o
crescimento
do epitélio intestinal é muito lento,
se comparado com o tecido
do coração, mas à medida que
o cão envelhece (acima de 5 semanas de
idade)
a infecção se estabelece no intestino,
levando à enterite.
Como
mencionamos acima, alterações no
músculo
cardíaco em infecções subclínicas
podem predispor ao aparecimento de
doenças
cardíacas quando o animal tiver mais
idade.
Forma
Entérica
A
doença normalmente se apresenta como
um
episódio gastroentérico severo,
altamente contagioso e às vezes
hemorrágico
em filhotes (com mais de 3 semanas de
idade).
Os animais afetados apresentam
inicialmente vômitos
profusos para depois desenvolver uma
diarréia
severa. Em muitos casos, os animais
afetados podem
se desidratar rapidamente e morrer 24
ou 48 horas
após o aparecimento dos sintomas.
Os sinais clínicos
geralmente aparecem
de 2 a 4 dias após a exposição
inicial (infecção). No começo
do curso da doença (de 1 a 3 dias após
a infecção), ocorre uma profunda
viremia antes do aparecimento da
gastroenterite,
e a temperatura do animal pode estar
bem alta.
É durante a fase virêmica que uma
profunda leucopenia, especialmente
linfopenia,
pode ser observada.
A
leucopenia se transforma rapidamente
em leucocitose
devido a infecção secundária
por bactérias, à medida que os sinais
clínicos se tornam mais evidentes.
Durante
a fase clínica da doença (do 4º
ao 10º dia após a infecção),
grandes quantidades de vírus são
eliminadas nas fezes. A fase de
eliminação
do vírus não é muito longa
e dura de 10 a 14 dias.
Animais
com eliminação crônica não
têm sido encontrados. A medida que a
doença
evolui, a temperatura geralmente volta
ao normal,
antes de se tornar subnormal, quando
então
o animal morre por choque. Durante a
fase de recuperação,
os sinais clínicos regridem
rapidamente
dentro de 5 a 10 dias depois de seu
aparecimento.
É possível que cães recuperados
possam apresentar a forma miocárdica
em
uma idade mais avançada, devido às
lesões iniciais causadas no músculo
cardíaco. No exame histopatológico
dessa enfermidade, encontramos
alterações
muito semelhantes àquelas encontradas
na
panleucopenia felina. O exame
post-mortem revela
lesões no trato gastrointestinal que
são
morfologicamente idênticas àquelas
vistas na panleucopenia felina.
Forma Miocárdica
A
doença se apresenta como uma
miocardite
em filhotes afetados (de 3 a 8
semanas) e raramente
em cães adultos. Cães que se recuperam
de forma entérica podem ser afetados
mais
tarde, durante a vida, pela forma
miocárdica.
Isso também pode ocorrer em cães
que apresentaram uma doença
subclínica.
Em casos típicos, filhotes
aparentemente
sadios morrem subitamente ou minutos
após
um período de angústia. Os filhotes
aparentemente sucumbem de edema
pulmonar, atribuído
a falha cardíaca. Nos cães que são
afetados mas não sucumbem
imediatamente,
nota-se ao exame radiográfico uma
cardiomegalia.
Os sinais clínicos são devidos a
ataque do miocárdio pelo vírus e
subseqüente degeneração e inflamação
do músculo cardíaco. É possível
que a miocardite em filhotes resulte
de infecção
neonatal ou intrauterina do feto.
Diagnóstico
As
alterações hispatológicas em
cães infectados, apesar de serem
características,
só podem ser usadas para confirmação
post-mortem. O exame ao microscópio
eletrônico
de extratos fecais é diagnosticamente
confiável.
O exame de imunofluorescência direta
em esfregaços
de intestino e o isolamento do vírus
também
têm sido empregados. A sorologia,
empregando
os métodos de inibição da
hemoaglutinação
(HI) e soroneutralização (SN) podem
ser usados mas, por si só, não são
conclusivos, pois os títulos de HI e
SN podem
ser elevados pela vacinação em adição
à exposição natural. Somente
a detecção do vírus nas fezes
e/ou a demonstração de anticorpos
IgM no soro confirmam positivamente a
infecção
aguda.
Inativação
do Vírus
O
parvovírus é muito resistente às
intempéries do meio ambiente. Uma vez
que
o local esteja contaminado, fica muito
difícil
eliminar o vírus. Acredita-se que o
vírus
possa sobreviver por mais de seis
meses em condições
normais de temperatura e umidade no
meio ambiente.
A maneira mais eficiente de
desinfecção
é o uso de formalina a 1% ou de
hipoclorito
de sódio a 5,25% diluído na proporção
de 1:30 em água. Deve-se minimizar o
contato
do animal susceptível com cães
afetados
e suas fezes.
Profilaxia
da Parvovirose Canina
A
única maneira para se controlar a
parvovirose
canina é por meio de um programa de
imunização
eficiente. As vacinas não devem
proteger
somente o indivíduo, mas também
a população, evitando a eliminação
de vírus quando o animal sofre uma
exposição
ao vírus de campo. Desde que seja
provável
que o parvovirus canino continue a
circular na
população indefinidamente, a
imunização
contra a parvovirose deve ser incluída
no programa rotineiro de vacinação.
Antes
de comentarmos o esquema de vacinação,
devemos ressaltar o papel dos
anticorpos maternos
na proteção dos filhotes e sua
influência
sobre a vacinação. Os níveis
de anticorpos maternos (adquiridos
pelo colostro)
nos filhotes variam de acordo com os
níveis
de anticorpos encontrados na cadela.
Quanto mais
alto for o título de anticorpos da
cadela,
mais altos serão os títulos
encontrados
nos filhotes e, portanto, mais
duradoura será
a imunidade passiva. No entanto, como o
nível
da cadela pode ser variável, a duração
da imunidade passiva também será
variável.
Têm se encontrado filhotes que com 6
semanas
de idade já não apresentam títulos
detectáveis, e filhotes que mantiveram
títulos
até a 18ª semana de idade. Se o animal
for vacinado e ainda apresentar
títulos de
anticorpos, esses vão inutilizar a
vacina.
Assim, para se ter a certeza de uma
eficiente imunização
em filhotes, deve-se dar a primeira
dose entre 6
e 8 semanas de idade, a segunda entre
10 e 12 semanas
e a terceira entre 16 e 18 semanas de
idade. A revacinação
deve ser anual. Para assegurar uma boa
imunidade
aos filhotes, deve-se vacinar as
cadelas antes da
cobertura. Não se deve vacinar cadelas
prenhes,
apesar de não existirem evidências
de interferência sobre o
desenvolvimento normal
do feto.
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